Conversa com demônios

Posted by Marcos Henrique de Oliveira | Posted in | Posted on 3/17/2010

 

De frente para um espelho vertical, sentado em uma cadeira, na meia-noite do Dia das Bruxas, ele me apareceu, refletido na prata. 
Após os palavrões e xingamentos de praxe, começamos uma conversa mais consistente.

 "Você busca um sentido, ele disse, um significado para tudo. Pobre idiota. Sem significado tudo morre., não é? Você, vocês, querem saber tudo, ter o controle, não sentir dor ou medo ou solidão. 
Precisam da sensação de segurança proporcional ao pavor de apenas existir ou morrer. Criam deuses, santos, rituais e sacrifícios. Criam amores e matam estes mesmos amores porque querem sempre a prova da sua existência. Criam territórios apenas para depois invadir, pilhar e destruir. Querem expansão apenas por poder e orgulho de ter algo que seja só seu e desenvolvem a cobiça porque nunca é o suficiente. Mas se mostrarmos o espaço sideral e além dele, choram como bebês e gritam 'pare, eu não aguento, parem!'. 

Cretinos.

Por que me pergunta sobre evolução? Sua infantil existência milenar não consegue entender o processo necessário. Se perdem entre o que é tradição e a repetição sem paixão de rituais que buscam redimir dois mil anos de culpa imbutida e bondade hipócrita. Não me encham o saco. Vá torturar outro com pedidos mesquinhos e autocomiseração exagerada. Seria mais inteligente apunhalar-se ou calar a boca desta mente estúpida que não se cansa de fazer perguntas.

O que? Religião? A religião, como vocês chamam, reúne o que há de pior entre vocês. Bastardos procurando o Paraíso Perdido, a manjedoura dourada do sentido eterno. E continuam com medo. E tutelados. E presos. Prefiro os animais que em sua inconsciência são livres para instintivamente viverem e morrerem como nasceram. 

Continuem, portanto, por favor, continuem. Afinal, vocês são miseravelmente divertidos, mortalmente estúpidos e orgulhosos. E chega desta conversa. A Eternidade da minha existência não existe para perder tempo com assuntos como este. Pode acordar agora.".

Acordei sobresaltado em minha cama, suando frio. Um pesadelo? A última coisa que me lembro antes de acordar foi ter visto um par de olhos refletidos em um espelho. E poderia jurar. Eles eram muito parecidos com os meus...

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